Pesquisadores do Insper, da USP (Universidade de São Paulo) e da Universidade de Barcelona lançaram o estudo “Sob pressão: a liderança das mulheres durante a crise da Covid-19” que faz uma análise de como os gestores municipais tomaram as primeiras decisões para enfrentamento do novo coronavírus.
Com base na análise dos dados disponíveis, os pesquisadores constataram que nas cidades onde as mulheres são chefes do Poder Executivo, a pandemia teve efeitos menos avassaladores, com 44% menos mortes e 30% menos internações do que cidades geridas por homens.
Em números concretos, cidades com prefeitas tiveram 25,5 mortes a cada 100 mil habitantes. Já nos municípios com um homem na gestão, o número de mortes por amostra subiu para 36,6. Atualmente, apenas 13% dos municípios brasileiros têm uma mulher no cargo de prefeita.
Segundo projeção feita por este estudo, se 50% dos municípios brasileiros tivessem uma mulher no comando, teria sido possível evitar cerca de 75 mil mortes.
Diferença na conduta
No início da pandemia, quando os gestores municipais tinham maior autonomia a respeito das ações locais, as prefeituras lideradas por mulheres adotaram medidas de controle de transmissão do vírus com uma frequência 10% superior a dos prefeitos.
Medidas como a determinação da obrigatoriedade do uso de máscaras, proibição de aglomerações e redução da circulação em transportes públicos foram decisivas para a diferença no número de infectados pelo novo coronavírus nestas cidades.
Os pesquisadores também levaram em consideração possíveis diferenças nos perfis dos administradores municipais como: posicionamento ideológico, nível de escolaridade e formação na área de saúde. No entanto, nenhum desses fatores foi relevante na adoção das condutas.
Cidades do estudo
Para fazerem essa análise, os pesquisadores pegaram como base os mais de 5 mil municípios brasileiros e aplicaram os seguintes critérios para a realização do estudo:
- Apenas cidades com eleições em um único turno em 2016 (com menos de 200 mil habitantes);
- A disputa de 2016 deveria ter sido entre um homem e uma mulher;
- A margem de vitória ter sido inferior a 10%;
Desta forma, chegaram a amostra de 700 cidades, em uma situação que fosse possível compará-los sem um viés que pudesse favorecer um ou outro caso.
Para analisar os casos de Covid-19, foram acessados os dados disponíveis de infecção e letalidade para SRAG (Síndrome Respiratória Aguda Grave) no Sistema da Vigilância Epidemiológica da Gripe do Ministério da Saúde, evitando assim a possibilidade de subnotificação de casos.
Experiência em outros países
Embora não fosse o foco do estudo, os pesquisadores compararam a experiência de alguns países. Por exemplo, a Nova Zelândia, que é liderada por uma mulher, teve apenas 26 vítimas fatais da pandemia. A primeira-ministra Jacinda Arden tomou rápidas medidas de isolamento e prevenção, sendo um caso de sucesso de enfrentamento à pandemia. Casos semelhantes foram registrados em Bangladesh e Taiwan.
Já países liderados por homens, como Brasil e Estados Unidos (durante a gestão Trump), apresentaram altos níveis de infecção e número elevado de mortos.